Primeiro dia de trabalho no observatório. Feliz e realizado, desta vez não sofri nenhum tipo de discriminação por ser um jumento. Isso graças à ONG Gente Quadrúpede, que utiliza dinheiro desviado de verbas públicas para dar direitos trabalhistas aos animais (vide o Mula. Conseguiram um emprego de Presidente da República pra ele).
Recebi a notícia que ia chegar uma excursão de Viçosa, com alunos na faixa entre 15 e 17 anos. Tratei de preparar o telescópio do observatório e apontá-lo para a Lua, a fim de mostrar didaticamente àqueles alunos como as estradas nacionais ficam cada vez mais parecidas com a superfície de nosso satélite. Aulinha bem básica, só pra despachar esses chatos aborrecentes.
Em uma hora ouço uma buzina. Era o ônibus reluzente de Viçosa chegando. Veículo simpático, com retrovisores fumê, vidros opacos e banheiro na sobreloja. Já estava de prontidão na porta do observatório quando a porta daquele ônibus se abre. Vejo uma cena surreal e de reflexo peço um beliscão, mas não havia ninguém próximo de mim.
Trinta e cinco beldades maravilhosas descendo uma após outra daquele ônibus, muito bem vestidas provocantemente, sobressaindo suas gônadas entre calças e saias. Batons de todos os matizes, perfumes afrodisíacos, decotes assanhados e pelinhos enfileirados em suas peles. A mais feia era a professora da excursão, que apesar das rugas dava um caldo em situação de delirium tremens.
Fui forçado a perguntá-la se era uma escola de modelos. Todas sorriram, primeiro pela pergunta e depois porque nunca testemunharam um jumento falante, o que fez meu bigulim dilatar cada vez mais as veias. Fiquei constrangido diante da minha cena pública de excitação, mas elas pensaram que meu brinquedo de armar era o telescópio com o qual veriam a Lua.
Tentei disfarçar conduzindo-as uma a uma no local onde estava o telescópio (o do observatório, não o meu), mas não consegui. Chegando ao equipamento precisei encostar uma escada junto à ocular para que elas conseguissem observar a Lua por ela. Para evitar escorregões segurei a íngreme escada e a cada beldade subindo eu podia assistir ao vivo, de baixo pra cima, uma clássica aula de geologia.
Nunca aprendi tanto a respeito das demonstrações corporais sobre falhas geológicas e a densidade de fendas surgidas em terrenos raspados, pantanosos ou sob densa vegetãção. Meu bigulim doía de tão rígido, a ponto de não conseguir escondê-lo entre meus pelos. Dito e feito, algumas beldades que estavam aguardando sua vez, apontando para meu brinquedo de armar, perguntam:
- Por que não podemos olhar por esse aí? Essa fila tá demorando muito!
- Porque ele não está colimado - respondi.
- Coli o quê? - replicaram.
Na hora da explicação tão esperada os ruídos do observatório são interrompidos ao longe pelo som alto de um carro tunado, com um adesivo escrito "fodão" na fronte e com uma geladeira em seu portamalas tocando Forró do Ruindo e outros sonoros campeões de disenteria. Minha alegria chegava ao fim, era um maldito playboy. O lixo humano entra no observatório e fura a fila das meninas.
- Ei, estou atendendo uma excursão agora. Aguarde sua vez. - aviso.
- Quero ver a Terra! Me mostra! - late o playboy.
- Você quer ver a Terra pelo telescópio? - pergunto.
- Quero sim e anda que estou com pressa! - muge a criatura.
Já irritado, peço licença ao grupo de seios, vou até o telescópio que estava apontando pra Lua e tiro totalmente o foco. Outras beldades que faziam observações com o meu bigulim reclamavam de algum defeito no equipamento, já que eu havia broxado por motivos óbvios. Com o(s) telescópio(s) totalmente desfocado(s) peço para a aberração genética olhar.
- Tá vendo a Terra? - pergunto.
- Não! - grasna o idiota.
- Olha direito - advirto.
- Acho que estou vendo! - relincha o lixo.
- Tá enxergando eu cagar em cima da tua cabeça? - pergunto.
Gargalhadas ecoam na geral e nas arquibancadas numeradas do observatório. O playboy, constrangido, me ameaça:
- Você vai ver! Vou mandar meu pai fechar essa m... Ele é secretário do prefeito e eu trabalho com ele!
O 'lixo funcionalista' (desculpe a redundância) pega o beco e entra em seu carro tunado, derrapando as rodas do papai.
Tudo voltava à excitação normal mas elas precisavam voltar para sua cidade. Entre fotos e afagos, algumas beldades ainda questionavam por que o outro telescópio (o meu cheio de veias) ejetava um gel cada vez que tentavam mexer no foco. Sem tempo para respostas, convidei-as para uma aula particular.
Saí do trabalho feliz com aquele assédio. Fiquei cinco dias sem tomar banho.
Do vizinho celista :
ResponderExcluirMuitas vezes me pergunto o porque tenho tempo para ler e ler e ler... a resposta é sempre a mesma. Aprecio a criatividade. Isso me lembra o filme que assisi há muitos anos atrás. "Mentes que brilham". Entre uns escritos e outros, vejo brotar a criatividade de mentes que como a sua, são exemplo de como usar melhor o tempo. Mesmo que seja sem um motivo aparente e sustentável, ha leveza no que habita entre o sulrealismo e ficção. Dica para inserir e mudar o termo "playboy" para "glayboy". rsssss Abração !!!
Gostei dos seus tectos cara ! Você é bem criativo !!
ResponderExcluirDê uma olhada no meu blog !
www.diegotrips.blogspot.com
Fui !